terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Ao 19 de Janeiro de 2012 às 06h45...

Luanda, 19 de Janeiro de 2012

Depois de uma longa mas confortável viagem era altura de aterrar na terra para a qual me tinham enviado. Ou melhor, para a terra para onde tinha decidido aventurar-me.
Estava ansioso! Será que o 4 de Fevereiro e a cidade de Luanda são mesmo como me tinham descrito?!
Será que vou ter que prender as malas ao braço sob pena de ficar sem elas ou ter que dar alguma "gasosa" pelo que é meu por direito?
Ao meu lado vinha o Luciano, de nacionalidade Brasileira, também engenheiro civil, que na última hora de voo me deu alguns conselhos sobre a forma como deveria agir em Angola e especialmente Luanda.
Eram 06h45m quando o A320 da TAP bateu com as rodas no chão. O coração palpitava aceleradamente ao mesmo tempo que tentava não perder o Luciano de vista, pois a sua ajuda iria ser muito importante nas horas seguintes.
Passados uns minutos lá estavamos nós dentro do 4 de Fevereiro, ao mesmo tempo que ia-mos percorrendo a interminável fila o Luciano lá me ia explicando o que iria acontecer a seguir e o que devia ou não devia dizer. O seu avontade e certeza nos assuntos que falava deu-me alguma paz e confiança.
Depois de passar pelo primeiro controle, onde necessariamente tinha que passar sozinho, colei-me novamente ao Luciano e com a sua ajuda nos fomos desviando a um e outro controle.
Estava aterrorizado. Tinha deixado a mulher que tanto amo, os meus paizinhos, retante familia e o meu máximus em casa! Que rumo é este que estou a tomar?! O que me vai acontecer?! Quero muito construir uma familia com a Inês, ter os nossos filhinhos e ser-mos muito felizes juntos a vê-los crescer e os nossos queridos pais a envelhecer alegremente! Será que o dinheiro e satisfação profissional compensarão tudo isto? Esta distância às pessoas que amo, aos amigos, à caça?
Como devem imaginar estou muito longe de ter alguma resposta a uma pergunta que seja, das milhentas que me passavam pela cabeça naquela hora.
Ultrapassados controles e mais controles lá cheguei eu à porta da rua do 4 de Fevereiro. Depois de uma chamada para o meu director lá encontrei os motoristas da empresa e um outro passageiro que vinha no mesmo voo da TAP mas que desconhecia. Depois de uma troca de palavras acabei por lhe contar que ia para o Soyo. Neste momento o já conhecido companheiro de voo esboçou um sorriso amarelo e por debaixo do bigode prontamente saiu a frase: "fuja de lá! Eu estive lá quinze dias e ia ficando doido!".
Depois desta pausada conversa debaixo dos 30º radiados pelo sol de Luanda à porta do 4 de Fevereiro fiquei então ainda mais consciente daquilo que até ali tinha tentado ignorar. O Soyo não ia ser "pêra doce"!
Já no caminho para a sede da empresa fui tentando tirar "nabos da pucara" com o motorista e o tal amigo e então fiquei a saber que na altura em que ele tinha estado no Soyo o pior era mesmo a hora de almoço onde tinha que alinhar na fila dos 7000 homens que ordenadamente percorriam o caminho até à sua refeição. Certamente que para muitos deles seria a única do dia, o que tornava as coisas ainda mais complicadas na hora de receber a comida racionada.
Enquanto circulavamos pelas ruas de Luanda ia reconhecendo aquilo que já existia no meu imaginário fruto das conversas que tinha com o meu pai sobre as viagens dele a Angola. A confusão, os cheiros nauseabundos, as casas degradadas, tudo era como o meu pai me tinha descrito. Nada falhava! O facto dele por aqui ter passado e ter amigos por cá também me dava alguma confiança.
Já na sede, depois de esperar alguns minutos, fui então conhecer o meu futuro director. A primeira impressão não foi surpresa pois era aquela pessoa que vinha no imaginário da minha cabeça. Uma pessoa pacata, dísponivel para me ajudar e, tal como eu, ansioso por começar o projecto do Soyo.
Depois de uma troca de palavras onde nos ficámos a conhecer melhor passámos para o que interessava...o trabalho! Depois de passados os elementos necessários para poder trabalhar no dia seguinte, excepto o computador, foi altura de conhecer o pessoal dos recursos humanos e de tratar da papelada necessária para não me prenderem legalmente em Angola. Ilegalmente, dizem as más linguas, acontece de vez em quando.
Apresentados mais meia dúzia de colegas, um deles o Paulo R. que tinha trabalhado comigo em Portugal, e directores foi altura do já desejado almoço e de rumar ao condomínio da empresa com um motorista.
Passada uma hora cheguei ao condomínio. Isto não é Angola, pensei eu! Será que as barracas ladeavam a estrada por onde vim eram tudo imaginação?! O condomínio é realmente fantástico. Assim dá gosto!
Durante o fim de semana tive a preciosa ajuda do André Lobo, meu colega e amigo, que me mostrou o bom e o mau de Luanda.
Depois de uma semana a tratar de papelada necessária, do contrato e de iniciar os trabalhos relacionados com o projecto do Soyo era altura de, finalmente, embarcar para o Soyo! É já no sábado dia 28 de Janeiro...

Beijinhos para a mulher que tanto amo, para os meus queridos pais, para a minha familia, para o Maximus, para o Morante e para o Paquirri!

André
Ruas de Luanda
Vista sobre os musseques de Luanda

O caldo que o Lobo tanto gosta! Muito bom!