sábado, 19 de janeiro de 2013

Angola - Um ano depois da chegada...

Soyo, 19 de Janeiro de 2013

Pois é!
Faz hoje precisamente um ano que aterrei no aeroporto 4 de Fevereiro. Um ano se passou! Um ano rico em novas experiências pessoais e profissionais, que de uma ou de outra forma me enriqueceram.
Foi um ano duro, sem dúvida, onde as saudades da família e amigos se fizeram sentir. Não os ter todos os dias ou fins de semana ao pé de mim é, de facto, triste mas ao mesmo tempo me reforçou o sentimento de dependência que tenho por vocês. Mesmo longe sei que os tenho e que me têm aqui e aí do lado esquerdo. Por muito curtos que os períodos de férias fossem acabaram por ser muito mais vividos intensamente. Desde os momentos ao lado da Inês, por que tanto esperei, os dias de caça com o meu paizinho e o meu grande Maximus até aos almocinhos da mãezinha e da avozinha acompanhado pela restante família, tudo foi vivido muito mais intensamente do que se tivesse passado o ano no nosso Portugal.

Da Angola do ano 2012 ficou a admiração, a descoberta, a confusão de Luanda, a
calmaria do Soyo, o novo projecto que ainda continua a ser um desafio constante, a fobia a cobras ou o que resta delas, o inglês que comecei a falar com mais normalidade, os novos colegas, os amigos que reencontrei (tenho que forçosamente destacar o André Lobo, a Jéssica e o Pedro) e o calor que este país tem e que ficará de certeza gravado nos poros da minha pele.

Como principal objectivo para este novo ano fica a vontade de ter a Inês comigo neste ou noutro projecto desafiante e que me permita, se possível ir mais vezes a Portugal para visitar mais vezes os meus paizinhos, a minha família, caçar com meu grande Maximus, caçar um javali com o Paulo Corceiro, comer uma lampreia daquelas que só o Dr. Barreto consegue "pescar".

Uma viagem por terra de Angola até Portugal seria engraçado! O menino Janeca, se tivesse coragem [ :) ] podia fazer a reportagem fotográfica de paramotor. Ainda ontem estive a ver um filme da aula de paramotor que ele me deu e onde eu esfolei os meus valentes abdominais no restolho do campo de voo.

Seguem algumas imagens daquilo que foram as minhas experiências em Angola durante o último ano:
 

Praia da Ponta do Padrão




 
Aos comandos de um rebocador encalhado
 

 

Com o Paulo S., "Foi além que chegou o Diogo Cão!"

 
 Com uma gibóia no saco! :)
 
 

A minha mangueira. Pequeninas mas doces!
 

 
Soyo - Lisboa de Saviem?! Podia ser uma hipótese...
 
 


 
Ponta do Padrão - Aventura n.º2
 
 
 
 Kinwica
 



Um beijinho muito muito especial para a "minha" Inês, para os meus paizinhos e familia, e um abraço a todos amigos com quem tenho contactado desde que aqui cheguei!














sábado, 3 de março de 2012

Os intrusos...

Sábado, 25 de Fevereiro de 2012

Fez neste dia uma semana que cheguei a Luanda, vindo do Soyo.
Foi dia de descanso para este "angolano". Fiquei o dia todo aqui pelo condomínio e à noite combinei jantar com o Lobo aqui em casa. Como não sei quando vou partir de novo para o Soyo só comprei mantimentos para uma semaninha e pouco, mas como andei toda a semana a jantar ali no bar do condomínio ainda aqui tenho algumas coisas. Essas compras foram feitas no domingo, 26 de Fevereiro, quando fui com o Lobo ao Kero.
Combinei fazer aqueles bifes de vaca que tinha comprado com uma massa mas como não tinha nem margarina nem sal pedi ao Lobo que trouxesse de casa dele.
Às 19h lá estava ele à porta de tupperwares na mão. Foi altura do Chef André começar a fazer o seu "Bife com molho de café à la Pinto" a acompanhar com fusilli. De fazer água na boca até aos menos esfomeados.
Enquanto cozi a massa e preparei o molho de café (não havia natas, foi mesmo com leite; não havia café em grão, foi mesmo com café em pó) o Lobo descongelou e bateu os bifes. Como não havia martelo bateu com uma colher enorme que temos ali na cozinha...não estivessemos nós em Africa.
Depois deste fantástico prato confeccionado foi altura de iniciar o jantar ao ritmo de um Académica de Coimbra a dar baile aos Lampiões.
Depois do jogo fui sair com um colega meu, com quem já tinha combinado ir-mos beber um copo ao Zodabar. Como o Lobo não quis ir fomos os dois.
Quando chegámos ao Zodabar batemos com o nariz na porta! À meia noite já não entra mais ninguém. Mas...ali do condomínio ao lado do Zodabar vinha um valente som! Aqui há festa, comentámos nós. Perguntámos aos seguranças do Zodabar e eles confirmaram o que já suspeitávamos...uma festa privada! "Vamos lá?", perguntou-me o meu colega. "Mas tu és maluco?!", exclamei eu.  Metemo-nos dentro do jipe e fomos embora. Mas...ao passar à porta do tal condomínio, não é que a musica até era agradável? :)
O meu colega parou o carro e entro para o condomínio e eu segui atrás, não ia ali ficar sozinho não é?
Lá fomos entrando até que chegámos à porta da casa onde havia a festa. Entrámos para o quintal e lá ficámos a ver a rapaziada a dançar. Além de nós havia um outro português que, ainda, não conheciamos. A casa, que pensavamos ser um edifício de apartamentos, era uma vivenda enorme com piscina e uma sala, onde estava a parte dos comes e bebes da festa, enorme. Passados uns dez minutos, e sem ter nada para molhar a garganta, decidi perguntar quem era o dono para lhe pedir desculpa pela aquela "invasão" da festa. Vi um senhor mais velho, ao qual me dirigi, e pedi-lhe desculpa por termos entrado sem ser convidados e se ele se importava que ficassemos a ouvir a música. Não é que o velhote engraçou comigo e desatou a rir?! Olhe, eu não sou o dono da casa mas venha cá que eu apresento-lho, disse o velhote já a puxar-me pelo braço. Lá fui eu a reboque conhecer o dono da casa. Quando olhei para o dono da casa pensei, já as mamaste! Mas não, o sr. C, de dois metros de altura e um "caparrão" de Trivete (actor da série "Walker, o Ranger do Texas") mostrou-se muito compreensivo e até expressou um sorriso quando me apresentei e lhe disse que estava ali porque não sabia como eram as festas em Angola e tinha sentido essa curiosidade. "Como já cá estão fiquem à vontade!", disse o sr. C.
Não demorou dois minutos e lá veio o sr. A, o tal velhote que pensava ser o dono da casa, ter comigo outra vez. "Sr. André o sr. C quer falar consigo.", disse o sr. A. "Não as mamaste à primeira vais mamá-las agora!", pensei eu cá para com os meus botões. Mas lá fui eu de novo a reboque do sr.A..
Quando lá cheguei o sr.C levantou-se e disse-me com um sorriso ar muito sério, "tinha muito gosto que o sr. e o seu amigo provassem o meu arroz de marisco!". Fiquei tão contente até a minha barriguinha batia palmas! Eram 01h30 e eu a comer arrozinho de marisco com o meu colega! Posso beber uma Cucan perguntei eu ao sr. C. O sr. C pediu logo à mulher para me trazer uma Cuca e ali ficámos todos na conversa um bocadinho. Era a festa de 18 anos de idade de um dos filhos dele. Depois de provar o arroz de marisco fui dar os parabéns ao filho dele e trocar as apresentações que ainda faltavam. Agora é que é a melhor parte. Depois de dizer que era eng. e que tinha ido trabalhar para o Soyo e a empresa onde trabalhava, o sr. C apresentou-me ao filho mais velho e ao português que lá estava e que nós não conheciamos. Depois de uma e outra troca de palavras diz-me o português, "O sr. C tem uma das maiores empresa de construção de Angolana!" Eh lá! Olhem-me só para estas coincidências, pensei eu. Trocámos mais umas palavra, incluindo com o sr. C, que nos disse que outro dia falávamos com mais calma, e bebemos e comemos a noite toda. Foi uma festa cinco estrelas, onde nos receberam de braços abertos! Pessoas do mais simpático que tenho visto, sem dúvida nenhuma.
Eram umas 04h da manhã quando cheguei a casa.


Beijinhos e Abraços,

André



segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Luanda...por quanto tempo?

Luanda, 20 de Fevereiro de 2012

Cheguei a Luanda, vindo do Soyo, dia 11 de Fevereiro. Ao meio dia lá estava eu a aterrar em Luanda dentro daquele Embraer minusculo da Sonair. Tive como companhia o Marcos. Lá comemos as nossas sandes oferecidas pela companhia aérea enquanto apreciavamos as vistas da "selva" Angolana. Depois da aterragem ainda pensei que tinha que chamar o Regimento de Sapadores de Luanda para o tirar do banco do avião mas não chegou a tanto.
Depois de muito custo na semana que antecedeu à viagem lá me conseguiram um quarto no condomínio da empresa. Estou a dividir casa com um colega que é responsável pelas pedreiras, o Eng.º Magalhães.
Neste momento a minha vidinha resume-se a vir para a sede trabalhar num projecto de estruturas, que para o qual pedi ajuda ao Lamy e ao Alcáçovas, que o arquitecto da empresa me pediu para fazer.
No sábado, dia 18 de Fevereiro, fui com o Lobo ao supermercado Kero e já me abasteci de "mantimentos" para tomar o pequeno almoço em casa. Andava com uma média de 600 AKZ em pequenos-almoços numa pastelaria aqui pertinho da sede. Não fiz as contas mas de certeza que poupo muito mais se tomar o pequeno-almoço em casa.
Ainda no sábado, fui jantar com o Lobo e com a Jéssica ao Zodabar. Este restaurante é um local agradável que fica em Talatona, a parte nova da cidade de Luanda. É um espaço aberto em que as mesas rodeiam uma piscina . Muito perto do Belas Shopping.
Esta semana vou continuar a trabalhar no projecto que vos falei e esperar que o meu director me dê novas indicações. Neste momento não sei o que me espera...mas espero que seja bom! ;)
Já tinha gravado a mensagem mas voltei a abri-la para vos dizer que da minha janela aqui na sede, hoje, tenho uma vista magnifica! Consigo ver o mar e a obra da nova Assembleia da República! A metereologia nunca me tinha ermitido alcançar tal imagem.
Quanto a Portugal...estou cheio de inveja dessas caçadas que o meu pai e amigos têm feito por aí! Uma coisa é certa, se eu aí tivesse os números duplicavam! E não são os números de alimentos comidos nos almoços! :)

Beijinhos e Abraços para todos,



André




Zodabar

Zodabar
(É esta vida social que o Soyo nunca há-de ter...)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Valentine´s day

Hoje, 14 de Fevereiro de 2012, era um daqueles dias que queria estar aí...ao lado da minha mulher, da mulher que amo!No entanto, ganho alento quando olho para o objectivo que me trouxe para longe. Para cá do equador, como digo no titulo do blog. Esse objectivo, como sabem, é conseguir a almofada que, se Deus quiser, me vai permitir passar muitos dias dos namorados ao lado da minha mulher.
Inês, na minha imaginação está o que poderia e deveria ter sido o nosso jantar hoje. Como entradas caiam-me bem aqueles deliciosos cogumelos recheados que só tu sabes fazer! Sabem tão bem meu amor! De seguida, enquanto degustávamos o Equinócio branco, sugeria os medalhões de pescada com alho francês e natas acompanhados do feijão com arroz aqui do Chef André! Até me estou a babar só de pensar nisto. É demasiado penoso falar em comidinha desta quando se jantou uma tosta mista ali no bar do condomínio!
E a companhia? A companhia seriamos nós os dois acompanhados pelo amor que nos une! Tenho saudades de conversar contigo! De saber que a seguir  a este jantarinho posso estar contigo no nosso sofá a ver um bom filme.

Apesar de estar longe, desejo-te um feliz dia dos namorados "Kiduxa"!

"Bjão" muito fofinho meu amor,

André

PS: Hoje podes dormir com a minha almofadinha! :P





segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Tarzan


Eram quatro e meia da manhã, em São Bartolomeu, quando a luz da cozinha se acendeu! O Tarzan há muito que já estava acordado. Com pouco mais de um ano de idade, este Braco Francês já tinha uma enorme paixão pela caça, o que lhe permitia saber que hoje era dia de caça. O ano de 2011 não estava a ser abençoado com as tão esperadas chuvas, o que fazia com que aquela madrugada do 16 de Novembro estivesse bastante seca e muito fria. As temperaturas a rondar os zero graus centígrados para ele não constituíam nenhuma adversidade, com a energia que tinha e a vontade de saltar de pedra em pedra atrás das perdizes de São Miguel do Pinheiro nem sentia o frio que estava. A luz quem a acendeu foi o seu dono, o João. Também ele estava ansioso por ver a sua “fera” percorrer os terrenos de pinheiros e cascalho solto atrás das bravas perdizes! O Tarzan foi o seu primeiro cão de caça. Ao longo da sua vida, demasiadamente preenchida pela actividade profissional, nunca tivera a hipótese de ter um cão de caça. Possibilidade teve, mas nunca o quis por não ter tempos livres para o treinar e caçar com ele como agora o faz.

O farnel estava feito, as botas, a arma, os cartuchos e a boina já estavam na bagageira do Q5. Era altura de ir ter com o seu amigo. Do canil, construído propositadamente para receber tão digno exemplar de cão de caça, entoavam os latidos de alegria que o Tarzan emitia. Estava radiante! Mesmo antes de acender a luz do pátio que dá para o canil já lhe via os seus olhos da cor de um fardo de palha em plena planície alentejana nos tórridos dias de Agosto. O Tarzan é uma réplica autêntica do seu pai, o Morante. Com uma pelagem castanha salpicada com pintas brancas como se tivesse saído de uma tela de Picasso, o Tarzan é o orgulho do seu dono. Tomara que a destreza do seu dono enquanto atirador fosse idêntica à do Tarzan enquanto caçador, mas nem todos podemos ter esse dom. Naquela dupla era, seguramente, o Tarzan o líder. Ainda cachorro já ele parava o espantalho, cinco ou seis penas de perdiz seguras por um fio de pesca a uma cana do valado, com que o seu dono lhe treinava as paragens. As suas paragens eram e são qualquer coisa de extraordinário. Os seus olhos, durante uma paragem, fazem lembrar os olhos do “Avispado” na hora de colher Paquirri, em Pozoblanco.

Eram cinco da manhã, estava na hora de iniciar a viagem, mas mesmo assim o João permitia, como sempre, ao seu fiel amigo as últimas corridas no quintal. Desta forma podia aliviar a bexiga e não fazer asneiras dentro do Q5. Depois das necessidades feitas era altura de iniciar a viagem. O Tarzan tinha alguns privilégios que nem todos tinham, como por exmplo, sentar-se no banco do pendura do Q5 em cima do seu cobertor. O João ensinou-o a subir para o Q5 com um único salto, para não riscar a pintura metalizada da sua “bomba”! Lá estavam eles, o João ao volante e o Tarzan como seu co-piloto. Tinham pela frente duas horas e meia de viagem até às terras de São Miguel do Pinheiro, onde o restante grupo de amigos os esperava. Todos eles tinham ido no dia anterior menos o João, que pela sua profissão de médico tinha sido obrigado a fazer banco, na vila de Gavião, até mais tarde.

Depois de muito caminhar, de uma e outra festa passada no pêlo luzidio do Tarzan, de uma ou outra palavra de conforto, e pela degustação de uma (uma cada um) suculenta empadinha da Ponte de Sôr chegaram à sede da zona de caça às 07h30, conforme o João previa. Os amigos, de pequeno-almoço tomado, esperavam-nos. Depois dos cumprimentos feitos, de se aquecerem na fogueira de lenha de azinho, pois o frio era realmente muito, e do sorteio das posições que cada um ia ocupar durante a caçada em linha, no caso dos batedores, ou da porta, no caso das esperas, era altura de seguirem para a zona da caçada.

O João ia agora na carrinha com o Jacinto, o Q5 não tinha pedalada para aqueles terrenos, e o Tarzan na roulotte com o seu pai, Morante, com o Maximus e com o Paquirri (também apelidado de “fofa” devido à sua maravilhosa humildade).

Colocados na posição sete, tinha sido esse o número que lhe coube em sorte, e depois da linha estar toda composta iniciou-se a batida. O Tarzan, entusiasmado com toda aquela liberdade e provocado pelo odor abundante das perdizes e coelhos, ausentou-se mal o João lhe retirou a coleira. Passados cinco minutos e depois de muito chamar pelo Tarzan, lá vinha ele, com o curto rabo apontando para o chão e as orelhas murchas de quem sabia que tinha feito asneira. Vais apanhar seu malandro, gritava-lhe o dono, sabendo que era incapaz de lhe tocar com um único dedo. Feitas as pazes, seguem de novo, agora juntos. O Tarzan caçava como um cão velho e batido em terrenos dobrados como aqueles. Ora para a direita, ora para a esquerda, ia percorrendo, ao comando da voz do seu dono, o terreno que lhes coubera em sorte. Não foi preciso esperar muito para, percorridos pouco mais de cem metros, o Tarzan ficar paradinho com um coelho! O João não sabia o que era mas uma perdiz brava das que por ali andavam não era de certeza pois não aguentava uma paragem daquelas, ainda por cima muito longe das portas. À voz de incentivo do seu dono o Tarzan lança-se sobre o desconhecido. Do outro lado da copa do pinheiro manso sai um coelho. Para quem conhece aquela dupla, não é preciso muita ginástica mental para saber qual foi o desfecho do lance. Dois tiros de baschieri-pellagri e lá vai o coelho sem um único bago de chumbo. Mais um que se vai embora, pensava o João. Isto é uma vergonha, como é que eu errei este coelho, perguntava o João ao Tarzan, como que a desculpar-se pelo sucedido.

Estamos a começar bem estamos, lá ia gesticulando o João. O Tarzan já estava noutra. Era completamente viciado na caça. O seu nariz dizia-lhe que mais à frente havia de ir a “pés” um bando de perdizes. Mas não foi uma perdiz que ele encontrou, a poucos metros dali numa “limpa” de pasto seco, foi uma lebre. Este não posso falhar, pensava o João, enquanto o Tarzan aguentava a paragem a poucos metros dele. Passo após passo, o João aproximou-se do Tarzan. O cão estava completamente parado, de mão direita no ar como é hábito neste tipo de cães. O Tarzan era o único que sabia que era uma lebre. A lebre é o troféu de caça preferido do João. Após sinal do João, o Tarzan voou para onde sabia, tinha um olfacto de outro mundo e nunca se enganava, estar a lebre. Assim que a viu sair o João até tremeu, depois de um primeiro tiro fora do alvo, foi ao segundo que a derrubou. O Tarzan quase que a apanhava antes do primeiro tiro! Depois de uma cambalhota e meia lá vinha ela na boca do Tarzan! Viram isto, perguntava euforicamente o João aos seus companheiros de linha. É uma lebre e foi o Tarzan que a parou, gritava ele. “Boa Tarzan!”. És o maior, gritava o João enquanto lhe fazia festas no seu macio pêlo. De lebre pendurada à cintura lá iam eles novamente. Até estou admirado como é que não errei esta “menina”, pensava o João. Não demorou um minuto e lá ia outro coelho à frente do Tarzan. Este não aguentou a paragem. O João ainda atirou um tiro mas se não o tivesse feito o resultado seria o mesmo. Lá ia o Tarzan atrás dele, demorou mais de dez minutos até regressar. Ao dobrar da colina lá vinha ele, ofegante de tanto ter corrido atrás do coelho. Vá Tarzan, tira lá outro coelho ao dono, incentivava-o o João. A esta altura já estavam a cerca de quatrocentos metros das portas. O João, como ia sensivelmente a meio da linha, tinha que esperar para que os seus companheiros que faziam as pontas se adiantassem. Se não o fizessem as perdizes, sabidas como aquelas eram, sairiam para fora da zona a percorrer entre a linha e as portas. Depois da linha se recompor, voltaram a andar, agora mais devagar pois as perdizes ao sentirem os caçadores das portas tentam esconder-se na vegetação. Não demorou muito tempo, e lá estava o Tarzan novamente parado! Lá foi o João pé ante pé até ele. Desta vez não lhe deu ordem de avanço, passou para a frente do Tarzan e com um leve toque, com o pé, na baixa esteva fez com que a peça de caça saísse. Era um enorme perdigão! Pum! Lá estava ele no chão! “Oiça, eu já não falho uma peça de caça!”. Viu isto, perguntava ele eufórico ao seu colega de caça e amigo Jacinto. Esse coitadinho atravessou-se à frente de um baguinho de chumbo, retorquiu o Jacinto. A boa disposição reinava entre eles. “Esse cão vê-se logo que é filho do meu Morante!”. Se não fosse eu a dar-lhe um cão nunca na vida você caçava um perdigão desses, gritava em tom de brincadeira o Jacinto. Também o Jacinto já trazia um casal de perdizes e cinco coelhos à cintura. O Maximus, o Morante e o Paquirri tinham-se encarregado de lhas levantar. Dali até às portas já não viram mais nenhuma peça de caça dentro da distância de tiro. Quando chegaram às portas puderam constatar aquilo que já vinham pensando. Tinha sido uma excelente caçada! Havia muita caça naquela mancha.

Depois desta batida seguiram-se mais duas. O João e o Tarzan ainda conseguiram caçar mais três perdizes e sete coelhos, quase todos parados pelo Tarzan. Não vale a pena relatar o número de peças de caça que o João errou porque o que se pretende com esta história é, essencialmente, descrever a aptidão e destreza caçadora do Tarzan. Vai ser, sem sombra de dúvidas, um excelente cão de caça!

Depois da caça dividida e devidamente limpa foi altura de comer o bom bacalhau com grão acompanhado de um tinto alentejano em São João dos Caldeireiros.

A esta hora já o Tarzan dormia no banco do Q5!



Um abraço ao João e ao Tarzan!



André Pinto



PS: Para quem não sabe, o Tarzan ainda está para nascer! No entanto, já tem pai, o Morante, e padrinho, o André. ;)



Não é mas podia muito bem ser o Tarzan!

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Soyo...despedida precoce

Soyo, 11 de Fevereiro de 2012

Aquilo que parecia o inferno, vestido de preto e de catana às costas como a morte, começou a branquear...a florir!
O Soyo, ao contrário de todos os sentimentos que atravessaram o meu sistema nervoso central nos primeiros, dos quinze, dias que aqui estive, tornou-se numa cidade pacata e onde eu já não me importo de estar. É certo que a vida social de um expatriado que permaneça nestas paragens se vai resumir a um ou dois sitios no máximo mas o facto de não ter o trânsito caótico de Luanda ajuda bastante.
A cidade edificada do Soyo, como já tinha referido na última mensagem, está confinada a duas ou três ruas. Tudo o resto são amontuados de chaparia de zinco com tabique ou "tijolos de burro".
Resumindo a minha introdução...quem vier para o Soyo vai ter que baixar a fasquia da vida social, assistência médica e mordomias, como por exemplo um supermercado, quase ao nível zero. Aqui não existe quase nada. No entanto, do pouco contacto que tive consegui perceber que não é totalmente mau viver aqui. A favor do Soyo jogam o pouco trânsito, o Kinwica, o Hotel Nempanzu e as praias, não são as praias das ilhas phi phi mas desenrascam.
Outra coisa que vale a pena ver é uma igreja que existe nos arredores do Soyo. Chamam-lhe a igreja da Missão, talvez por se tratar de uma igreja que faz parte dum complexo de missionários, e fica relativamente perto do Soyo. É um espaço agradável, limpo e com frescura que nos enche de esperança. Esperança no Soyo e no seu desenvolvimento.
Agora que já me estava a ambientar ao Soyo é que tenho que ir embora, penso eu nos últimos momentos que me restam nas terras do Zaire. Já conhecia os colegas, as ruas, os sitios, os cheiros...já gostava do Soyo!
A obra, como já se palpitava, foi adiada algum tempo. Não sei quando volto ou se volto mas uma coisa é certa, se vier não me vou importar. O Soyo pode não ser um paraíso mas dá para viver, dá para se viver a trabalhar.
Daqui a pouco vou embarcar para Luanda. Não sei quanto tempo vou ficar em Luanda nem tão pouco o que vou fazer.
Aos que leêm o blog e gostam da caça, tal como eu, desejo-vos umas boas caçadas. O meu Pai, o Paulo C. e o João B. têm-me relatado os bons resultados que por aí se atingem. Sei que desde as batidas aos javalis até às caçadas aos tordos e pombos se tem caçado muito e essencialmente de boa qualidade, com os almocinhos a ressaltarem no meio das molhadas de tordos.
À minha mulher e familia, não se preocupem porque estou bem...gordinho ;)!

Beijinhos e abraços a todos,

André Pinto





Base Angola LNG


Base Angola LNG

Garça
Bom exemplo de subnutrição...

Cadal Channel



Navio atracado perto do porto do Soyo

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Em terras de Nentombe!




Soyo, 28 de Janeiro de 2012

Já há alguns dias que andava ansioso por conhecer o Soyo e a sua realidade. Como será aquilo, pensava eu. Será que vou ter boas condições? Será que se um dia a Inês quiser vir ter comigo vai gostar? Adaptar-se-á ela ao Soyo? Será que me vou "desenrascar" com o meu inglês nas reuniões com os americanos? Haverá cobras? Eram estas as principais perguntas que faziam que a minha ansiedade crescesse a cada hora, a cada minuto. Já imaginava uma "cloud computing" dentro da minha cabeça com perguntas a serem processadas de um lado para o outro. Estarei a ficar senil?
E assim andei até sábado.
Eram 05h00 da manhã quando me levantei cheio de energia e pensei para comigo: " vamos lá agarrar este touro pelos cornos!".
À hora combinada lá estava eu à porta do meu director de malas feitas para rumar ao Soyo. Pelo caminho até à sede da empresa, onde fomos buscar alguma papelada que nos fazia falta para a reunião que tinhamos agendada para esse dia com os americanos da Angola LNG (nosso dono de obra), fui falando com um engenheiro que já passou uma temporada no Soyo e que nos pediu boleia para a sede. Entre palavras e meias palavras lá fui tirando as minhas conclusões e, como já imaginava, a verdade é que ninguém abonava a favor do Soyo. Será aquilo assim tão mau? Não pode ser!
Passadas duas horas, depois de pagar algum excesso de bagagem e ter que justificar a minha ida para aquelas paragens lá estava eu e o António S. dentro do embraer da Air26, a companhia que nos levaria ao Soyo.
Decorridos aproximadamente 35 minutos e lá estávamos nós a aterrar no Soyo. Agora é que vão ser elas, pensava eu. André prepara-te para te abrirem a mala ali dentro do aeródromo, disse-me o meu director aconselhando-me a ter calma. Há que dizê-lo que sempre me ajudou, me aconselhou e preveniu antecipadamente dos acontecimentos mais "quentes" por que iria passar. Parecia-me bruxo...mas não, era mesmo a experiência de ter passado um bom par de anos por África!
Depois das burocracias táctico-estratégicas da altamente especializada policia do aeródromo internacional do Soyo, ironizando, lá estava eu a caminhar para a carrinha onde me esperava o meu director, António S., e o administrativo, Paulo V., que já aqui estava desterrado desde Março. O calor era abafado, o ar era quase irrespirável! Por momentos, muito curtos, lembrei-me da música que o meu amigo Dr. Galinha Barreto tanto gosta, onde as vozes alentejanas cansadas da ceifa do trigo entoam em coro, de fazer arrepiar os cabelos, as frases "o sol rasga as camisas" e " os corpos queimados mais ficam". Como disse, foi mesmo por poucos momentos porque a seguir olhei para os lados e vi aquilo que já todos me tinham dito mas que não queria acreditar. Onde é que eu vim parar, pensava eu. Depois de conhecer o Paulo V. e dos meus 30 e muitos kg de bagagem já estarem em cima da carrinha era altura rumar até à pseudo sede da nossa empresa no Soyo. Pseudo porque é uma vivenda que além de servir de alojamento também cumpre as funções de escritórios. Não é nada má, diga-se de passagem.
Sabem qual é a sensação do mundo lhes cair em cima da cabeça? Foi mesmo essa a sensação que eu tive. Onde é que eu estou?! Em que mundo aterrou a minha nave?! Estou lixado! A Inês nunca aqui vai conseguir estar! Confesso que as lágrimas escorreram pela superfície suada e, concerteza, pálida da minha cara! A esperança que sempre tive de que o Soyo não fosse assim tão mau tinha-se evaporado como se fosse o élio de um balão acabado de rebentar! Deus queira que os americanos cancelem a porcaria da obra, pedia eu. A esta altura já se falava dessa possibilidade pois, segundo eles, os terrenos ainda estavam longe de estar expropriados.
Naqueles dois ou três quilómetros tudo me passou pela cabeça. Estava, novamente, aterrorizado! Será que vale mesmo a pena tudo isto?! Estar longe da Inês, dos meus pais, da minha família, dos meus amigos, do meu Maximus, do Morante, do Paquirri, da caça, durante este tempo pela realização profissional? O pensamento que me passou e passa pela cabeça é só um: não quero estar apenas um ou dois meses num ano com a minha mulher! Isto assim não é vida! Não foi para isto que casei! Vim para ter estabilidade, principalmente monetária para poder-mos dar um neto aos nossos pais, e assim corro o risco de ter estabilidade monetária e não ter mulher nem filho. Enfim...durante estes dias é o que tenho pensado de hora em hora.
Depois de conhecer a restante equipa, o Marcos A. e o José C., fui conhecer o Didier Michel, um francês da Spie Capag que veio para ficar três meses e está aqui há cinco anos. Precisamos de um porto que existe no ainda estaleiro da Spie Capag e como eles vão desmobilizar fomos tentar ficar com essa estrutura para nós.
Passadas duas horas lá estávamos nós de volta à casa cor de rosa, a nossa casa/sede no Soyo. Era hora de almoço mas por incrível que pareça, quem me conhece sabe que consigo ter fominha a qualquer altura do dia, não tinha vontade de nada muito menos de comer. Estava em stress! A Inês mesmo que queira vir não se vai adaptar a isto, pensava eu ininterruptamente.
Fomos almoçar ao Kinwica, um resort de portugueses onde a nossa empresa fez um acordo para tomarmos ali todas as nossas refeições. É, sem dúvida, o melhor lugar para se almoçar ou jantar no Soyo.
Depois de um rápido almoço lá fomos nós à reunião com os americanos da Angola LNG. A Angola LNG é uma joint venture entre várias empresas do ramo dos petróleos, a Chevron, a Sonangol, a BP, a Total e a Exxo. Sendo que a Chevron é a maioritária.
Depois do António S. ligar para um responsável dentro da base lá nos vieram buscar de autocarro à entrada da base. A base mais parece uma prisão de alta segurança! Só se entra com um visto, que neste momento ainda não temos, ou então com autorização dos responsáveis, que nesse caso nos mandam alguém buscar à porta.
O desfecho era previsível, depois de tantas cartas a atrasar o inicio dos trabalhos era mais que certo que não ia-mos arrancar com a ponte. Passada hora e meia a ouvir os americanos de Huston, Texas, que são os responsáveis para este projecto por parte do dono de obra a sentença foi lida...a obra está suspensa! Era o veredicto!
Tanto que eu ali queria ficar e estes senhores cancelaram a obra! :)
A decisão era, realmente, frustrante para quem tinha andado vários meses a preparar a obra! Era uma sensação de que não havia respeito por nós, tinhamos levado um pontapé no traseiro sem nos darem um explicação. Vão para casa que depois avisamos quando for para iniciar trabalhos, disseram eles. Isto não é nada! Imagino a revolta que não estaria a sentir o António S., que ao longo de meses e meses tinha andado a preparar as coisas para que nada falhasse na altura de iniciar os trabalhos. O Paulo V. já cá estava desde Março e agora até já tinha tudo encaminhado para trazer a namorada para cá. O Marcos A. e o José C. que, também, já cá tinham assentado arraiais. Enfim, não havia nada a fazer. Manda quem pode, obedece quem deve!
Eu, próprio, me sentia frustrado porque a verdade é que queria muito fazer este projecto. O sonho estava a cair por terra. E que ficava eu aqui a fazer agora? Em Luanda já não tenho alojamento, fico aqui sem nada para fazer?! Estava a "flipar" completamente. O António S. gentilmente e sem querer dar muito nas vistas ainda me foi apresentando alguns sítios e pessoas para que me conseguisse adaptar ao Soyo no período que aqui permanecesse. Estava a acontecer tudo o que eu não queria, uma cidade de lata onde a Inês não se ia adaptar, lixeiras a céu aberto por todo o lado, infraestruturas escassas para não dizer inexistentes e, principalmente, sem o projecto que tanto queria fazer. A verdade é que estava mesmo motivado para este projecto! Queria muito participar nesta obra. Ia ser a minha satisfação pessoal, uma ponte e trabalhar com americanos, com os quais poderia aprender muito.
Ao jantar mal falei. Queria ir embora. Não queria ficar aqui nestas condições. Ia ficar demente!
Para piorar as coisas a internet mal funcionava. Queria falar com a Inês no Skype e não conseguia. Faço parte do elenco de um filme de terror, pensava eu.
O meu desejo era ir para Luanda. Já tinha falado com o André Lobo a pedir-lhe alojamento na casa dele, coisa que me garantiu prontamente. Agora era mesmo comprar um bilhete de avião, nem que fosse eu a suportar esses custos, e embracar para Luanda já na manhã ou tarde seguinte. Para me acalmar estava a tentar fazer um plano de fuga para Luanda. Que se lixe o dinheiro que me podem pagar. Os colegas que estão em Luanda, ainda por cima, ganham tanto quanto eu e estão tranquilos da vida. Até já tinha pensado onde ia pedir trabalho, caso me despedissem por este acto.
De seguida liguei ao António S., já eram 22h, a contar-lhe o que estava a pensar e não ia aceitar uma recusa da parte dele. No entanto, com a calma que lhe é caracteristica lá me acalmou a mim também e aconselhou a ficar até as coisas se resolverem. Já tinha em mente uma solução para o meu caso, garantiu-me. Com isto acalmei-me e cá fiquei.
No domingo acordei como se fosse uma criança que tinha sido raptada aos seus pais e a qual estavam a tentar integrar numa nova familia. Não queria ser desagradável com quem já cá estava nestas condições há meses. Mereciam o meu respeito! Depois de almoço alinhei numa ida à praia com o José C.. Pelo caminho lá me foi animando e contanto as suas histórias de comandante da marinha mercante, com esta e outra peripécia que lhe tinha acontecido nos tempos em que era comandante de uma embarcação nas águas de Moçambique. A estrada que liga o Soyo à praia da Kifuma é a mesma que faz a ligação entre o Soyo e Luanda. Foram aproximadamente 45km de terra batida, ladeados em toda a extensão por casas de madeira e lata, até à praia. A praia é agradável, apesar das águas serem escuras e, segundo o comandante, serem gordurosas devido ao petróleo.
Na cidade há, segundo o Paulo V., dois ou três locais onde se pode "socializar". São eles o Baía, o BelaVista e o hotel Nempanzu.
De domingo até hoje os meus dias têm sido passados entre o Kinwica e a nossa casa com uma ou outra ida fugaz à cidade (aglomerado pseudo-urbano de barracas de madeira e zinco entre uma ou outra casa colonial e um hotel de quatro estrelas). Os colegas de trabalho têm sido bons companheiros.
Estou no Soyo faz uma semana amanhã. Os sentimentos e as direcções a tomar estão ainda muito turvos mas já há linhas mais ou menos traçadas, pelo menos é o que sinto neste momento.
 Fico em Angola até aguentar cá estar pois, como já disse, o objectivo é fazer familia e não estar sozinho.


Quero agradecer à Inês, aos meus queridos pais, ao tio Janeca, ao Paulo C., ao João G.B., ao Nuno A. e a todos os amigos que me têm apoiado nesta aventura! Sem vocês os dias seriam muito mais penosos e dificeis de passar.

Pai dê um beijinho meu ao Maximus!

Beijinhos e abraços,

André

Casa "Cor de Rosa" - Alojamento/Sede

Traseiras da casa "Cor de Rosa"

Vista do Canal do Cadal


Embondeiro

Kinwika


Farmácia

Hotel Porto Rico


Rua do Soyo



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